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É TÃO GRANDE O ALENTEJO


 

Ano de Gravação: 1997

Edição: ACA – Associação de Cante “Os Ganhões”

Suporte: CD

Esgotado

Modas

Ia Chegando às Areias

Ao Romper da Bela Aurora

Olha a Noiva se Vai Linda

Oh Águia que Vais Tão Alta

Vai de Centro ao Centro

A Ribeira do Sol Posto

Mondadeira Alentejana

A Vila de Castro Verde

Camponês Alentejano

Castro Verde é um Jardim

É Tão Grande o Alentejo

 

Os ricos não cantavam. Eram os homens do campo, os que untavam as gretas das mãos com o suor do rosto, que tinham no cante a receita para os males do corpo e do espírito. O cante era a vida. Sobretudo aquela que se desejava Ter. cantar significava fazer parte. Era a forma mais eloquente de comunicar. Cantava-se no caminho, no trabalho e no regresso. Quem bailou por esses casões fora e seu par escolheu bailando, sabe que a voz e a força de todas elas juntas fazia estremecer o chão e vibrar o corpo em bebedeiras de desejo, de alegria e de juventude. E o cante era rei tinha força. Quando apertava a invernaria e o frio chegava o corpo ao borralho e o estômago á parede, as vozes elevavam-se para os céus cantando ao Menino. E o cante era rei e o rei tinha fome. Quando a monda reunia as moças em rancho e a jorna mal chegava para as solas era a voz que encurtava a caminhada e amaciava o cabo do sacho. E o cante era rei e o rei tinha geada.

Nas ceifas quando o corpo pagava o imposto da sua pobre condição, mais a tirania do capataz, mais o castigo do sol, a voz era um barco navegando por essas searas fora em viagem para outras vidas e outras paragens. E o cante era rei e o rei queria mudança.

O Cante é um hino, um grito de sabedoria condensado pelo tempo.

E no tempo perde-se as recordações, apagam-se as letras, esquecem-se os passos e as voltas da dança. Preservar não significa copiar a todo o custo os pormenores de estilo, de forma e de vida que ao próprio tempo já pertenceram. Preservar tem que significar aceitar a mudança quando sabemos acautelados os nossos valores culturais. O cante não pode ficar amarrado a uma geração, nem à actual exteriorização visual dos seus executantes.